No final do década de 1930, a animação estava no auge. Era chamada de “Era de Ouro” por muitos entusiastas do cinema, onde personagens clássicos como Mickey Mouse, Gato Félix, e Popeye surgiram e se tornaram grandes sucessos nas telas de cinema, muitas vezes sendo exibidos antes do filme principal. Com isso em mente, Warner Bros. também decidiu investir fortemente nesta área. Em 1938, através do gênio de Tex Avery (um dos maiores criadores de animação de todos os tempos, responsável por criar: Patolino, Caído, Chilly Willy, entre outros), Coelho Feliz nasceu, um coelho branco com uma personalidade maluca, quase idêntica à do Patolino (que foi criado um ano antes).
Além disso, Coelho Feliz apareceu em alguns desenhos animados em 1938 e 1939, com sua criação sendo influenciada pelo coelho Max Hare, criado pelos estúdios Disney e protagonista de alguns curtas da série “Sinfonias bobas” série. O personagem logo ganhou a voz de Mel Blanc, uma lenda da dublagem americana, que dublou Pernalonga (e a maioria dos personagens dos Looney Tunes) por cinco décadas. A voz de Blanc era uma mistura de sotaques dos bairros de Nova York da Bronx e Brooklyn. Uma curiosidade: no início, o coelho tinha uma risada repetitiva e irritante, que acabou sendo transferida para Pica-Pau, personagem que Blanc também dublou, alguns anos depois.
Com o tempo, o design e personalidade do personagem mudou; Pernalonga tornou-se mais sarcástico e irônico, mas sua aparência foi suavizada, tornando-se mais gentil e menos selvagem. Uma das inspirações foi o ator e diretor de cinema Groucho Marx, de quem Pernalonga herdou o tom áspero e também a maneira de segurar sua cenoura, assim como Groucho segurava seu famoso charuto. Seu nome foi mudado para Pernalonga, como uma homenagem a um dos artistas que trabalhou em seu novo visual, Ben “Insetos” Hardaway.
Sobre 27 de julho de 1940, o personagem estreou oficialmente ao lado Elmer Fudd, um dos seus mais famosos antagonistas, na busca pela caça do “coelhinho“. Foi no curta “A Wild Hare”, onde o personagem também falou pela primeira vez seu bordão mais famoso: “What's Up, Doc?”
Com o grande sucesso desta animação, os diretores da Divisão de animação da Warner Bros. decidiu tornar o coelho um personagem regular nos curtas de animação da empresa. Logo, a Segunda Guerra Mundial chamaria a atenção do mundo, e este evento serviria como um "trampolim” para vários personagens animados, que desempenharam um papel valioso: distraindo o público americano, desviando ligeiramente a atenção do clima de guerra e elevando o moral da população.
Por exemplo, em alguns episódios, o coelho (como muitos outros personagens da época) foi mostrado lutando contra soldados nazistas e japoneses, desmoralizando figuras inimigas, incluindo o próprio Hitler. É o caso de “Senhor Mets Hare“, um desenho animado de 1945 onde Pernalonga engana um soldado nazista se passando por Hitler e acaba encontrando o verdadeiro comandante do Eixo, além de se passar por Joseph Stalin.
Em seus vários episódios, Pernalonga sempre foi acompanhado por personagens como Elmer Fudd, Yosimite Sam, Patolino, Marvin o marciano, Foghorn Leghorn, e outras figuras clássicas do universo Warner Bros. Um de seus filmes mais aclamados é “O Que é Ópera, Doutor?”, de 1957. Nesta paródia da ópera de Wagner “O Anel dos Nibelungos”, Elmer Fudd interpreta o semideus Siegfried, apaixonando-se pela versão do Pernalonga vestida de Brunhilde.
A produção alcançou um status nunca antes alcançado por uma obra deste meio, sendo o primeiro desenho animado a ser considerado “culturalmente significativo"pelo Biblioteca do Congresso e selecionados para serem preservados no Registro Nacional de Filmes, entidade nos Estados Unidos que preserva obras importantes para a identidade cultural da população.
No entanto, em 1960, os desenhos animados do coelho migraram para a TV, quando a rede abc adquiriu os direitos de dezenas de animações produzidas especificamente para o cinema e passou a exibi-las no programa “O Show do Pernalonga“, que durou exatamente 40 anos na programação do canal, passando por inúmeras mudanças de horário, título e formato, mas sempre apresentando os desenhos do astro. Com isso, o personagem deu o passo definitivo para se tornar um dos maiores ícones da história da animação.
No próximo artigo especial, vou mergulhar no mundo de Bebês Looney Tunes e Looney Tunes, com a participação de vários outros protagonistas e antagonistas do universo Warner Bros.
Você se lembra desse show clássico? 🙂